segunda-feira, 16 de junho de 2008

As belas praias da Ilha Grande
















O risco de passar a pedra do Demo; a surpresa do encontro da praia; o alívio de chegar em Provetá. Percurso realizado por muitos caminhantes, mas sempre maravilhoso...e sacrificado!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Os dois Pedros (ficção)

1864. Feliz pelo retorno á esta ilha que admirava tanto, o Emperador dessembarcou do pequeño vapor que o trazía do Abrao. Á sua chegada nao lhe faltaram honras nem demonstraçoes de carinho. Embora nesta fazenda nao houvesse os luxos e a suntuosidade de aquela outra (a do Holandés) onde costumara se albergar, lá na Corte aceitou de bom grado o convite do seu amigo e sósia e já estava aquí, nas vésperas da boda.

No salao da casa grande a orquestra ensaiava a valsa dos noivos e outras peças familiares ás senhorinas e senhores que sonhavam com a aristocrática possibilidade de obter algún favor da visita de Pedro. O emperador manifestou seu desejo de percorrer as plantaçoes e a sua preferencia de faze-lo montado a cavalo e nao na carruajem. O coronel o acompañaba. Juntos deram as costas para o mar, que parece desfallecer nesta praia, e também para o murmullo lisonjeiro de convidados e achegados. Subiram a serra por uma estrada principal, da qual saíam varias bifurcaçoes dividindo os plantíos e facilitando a lavoura. Atrás da fazenda do alongamento nao havía clima de festa, quanto mais para cima, mais longe do frescor dos rios o sol rajava os lombos pretos avermelhados dos esclavos dos cafezáis.

Ao lento e esforzado ritmo dos cavalos, os dois Pedros dissertavam sobre as exportaçoes, o café Express e a presao da Inglaterra. Sem dize-lo, mas quase, o Coronel alegrou-se do seu filho passar a nao depender mais da fazenda para ter uma boa vida. Agora médico, o primeiro profissional da familia e até da regiao…disso enorgulhava-se Pedro Antonio ao ponto de cavalgar com o emperador sintindo-se á mesma altura. O nobre aproveitava os interlúdios do seu amigo para fotografar, coisa que nao despertara grande curiosidade no fazendeiro pois muito a pesar seu lhe invejava visceralmente o entusiasmo. Entusiasmo que visceralmente combatía no seu filho Joaquím quando discutíam de política. Nao era verdade que ele devesse seu sucesso ao dinheiro da sua familia, ao seu fervor de juventude nem até á sua espontaneidade de ilhéu. Havía nele um brilho que embora nacido dainteligência e da dissidência, abría-lhe todas as portas. Também a da alma do seu pai que lhe amava mais do que aos seus outros seis filhos.

Os dois Pedros reiniciaram a marcha e os parlamentos. Desta vez conversarom sobre os a baixa de taxas ás exportaçoes do café e os benefícios que lhe acarretava ao imperio. Justamente sua íntima amizade de pouco tempo havía-se consolidado na base do respeito mútuo das alternancias entre palavras e mutismos. E também entre verdades humanas e mentiras políticas. Tal vez seja por isso que o Emperador nao tirava fotos das lavouras e muito menos dos negros aos quais evitava objetivar. Posso sentir que ambos nas profundezas das suas importancias sabíam que nada é para sempre. O nobre havía mamado Heráclito, aos dezeséis anos já discutía com seu instrutor a filosofía viqueana, conhecía como ninguém os fundamentos da Revoluçao Francesa. A república amenaçáva-os de maneira igual, mas cada um tinha seus medos e seus interesses. O Coronel tinha dificuldade em conciliar liberdade e progresso económico, por isso dizía sempre para Joaquím que nao iría para lugar algúm se vociferava esses ideáis revolucionários e muito menos se expunha para a familia da noiva sua empatía com as idéias de kardec. Pedro quería que o emperador o nomeasse médico oficial da Corte, e tinha esperanzas pois Pedro II estivera presente na sua formatura e por isto já o distinguía.

Depois de uma hora subindo, estavao no cume do morro. A vista era un presente digno duma majestade. Aquí no topo conservávase ainda uma floresta exuberante pelo meio da qual passava a estrada para o outro lado da ilha, comunicando a Fazenda do alongamento com uma outra. Dava para ver de em ambas ladeiras os plantíos organizados de café, mulho, cana e mandiocáis. Nos sítios mais húmidos estavao os bananais e alguns pequenos arrozáis para o consume interno das fazendas. Também podíase ver –e como nao- um casarao de doze pilastras cuyo telhado se distingüía na inmensidad verde da ladeira leste. Pedro José aprimorou-se em complacer a mirada expectante do ilustre convidado. Esa fazenda lá é do meu amigo Jordao da Silva Vargas e da sua esposa, le disse ao interromper abruptamente a discussao que mantinha com o feitor, por causa dum escravo fugido. “esses cabiúnas estao cada vez mais hazanhados. Veja sua Majestade, aquí estamos com um problema sério. Três fugiram da Fazenda de Dois Ríos, recém desembarcados. O capitao da fazenda de lá chegou pegar um, mas já estava morto de picada de cobra. Estamos preocupados pois dizem poraí que a gente nao os acha pois estao enquilombados em algúm buraco da Pedra d’Agua”. O Ilustre convidado nada respondeu. Só acompanhava o relato de Pedro asintiendo, mas nao podía disfrazar sua amargura. Tal vez já havía razoes suficientes para permitir a intromissao inglesa na guarda costeira, mas ele sabía que esa nova aristocracia feudal conhecería logo a decadencia. Para que sacrificar a própria cabeça. A historia no seu giro permanente lhe dava a certeza de que os frutos maduros despencam naturalmente. Entao, meu amigo, que me diz acerca de tanta beleza e fartura, perguntou o Coronel. È tudo muito preciosso, falou Pedro e denotando uma certa melancolia, depois de uma pausa e um suspiro acrecentou: entristece-me notar que só havéis deixado floresta nos topos dos morros. Que decepçao para o Coronel trazíam essas palabras. Por algums momentos havía chegado pensar que eram pares, mas agora sabía que para quem recebía grande parte dos lucros da explotaçao rural do Brazil era-lhe fácil condenar a capina do Jardím do Eden. “É verdade, sua Majestade”, lhe disse someramente y fazendo que percibía naquele momento ademora do passeio, o convidou para retornar á praia, onde os preparativos fináis para o casamento nao dispensavam sua presenta. Havía que escolher os animais para a festa, as galinhas, os bois, o porcos. Também havía que levar logo as pacas que o feitor caçou enquanto percorria a floresta na busca do fugido. Na verdade nao era só esse o interesse de Pedro José, senao também aproveitar a curta e honrosa visita do Imperador para entroçar seu filho médico na Corte.

Pedro já havía alertado Joaquín para nao expor de cara suas idéas religiosas, pois isso podería complicar as coisas. Imaginava que ao Emperador nao lhe interessara incluir nenhum elemento revolucionário entre seus achegados, sendo que era uma época na que para manter o regime imperial havía que ser exímio tecedor dos fíos da política e da economía. Interrompendo novamente o silêncio que marcou seu retorno á casa, disse ao Ilustre que seu filho era seus olhos. Havía herdado a inteligencia da mae e a sua determinaçao. Será uma pérola para o Imperio, disse o Coronel. Pedro II concondou, assim com essa diplomacia que os bons costumes marcavam desde sua infancia. Deu um sorrisso ao jolgorio das gentes que da casa grande saíam para recebe-los de regreso. Duas negras carregarom as pacas ao ombro e rápidamente foram banha-las em agua fervente para tirara os pêlos. Uma outra escrava trouxe as facas com as que abriras as barrigas espaldando as tripas que uns vinte cachorros e gatos disputarom nos fundos, á beira da cachoeira.

Na janta, Joaquín estava radiante, ansioso por discutir com Pedro(seu pai ou o outro) sobre cómo as almas viven varias vidas no camino da perfeiçao, quería muito poder dizer públicamente como era capital que o homen soubesse que o que faz o for fazer em esta vida condicionava necesariamente as próximas existencias. Sentados á mesa, o filho de Pedro Antonio tentava aproveitar cada intérvalo na conversa buscando nos seus olhos uma atençao particular.

O Imperador, com essa sabiduría que vêm de conhecer tantas pessoas notou sua impaciencia e dirigiu-lhe uma mirada que semeou expectativas no resto dos começáis. Segundos depois lhe disse. Jovem Joaquín, conheço as ideáis de Kardec. Ao contrário do que me disse o meu grande amigo o Coronel, seu pai, muito me temo que com os seus pensamentos, mais do que uma pérola para o império, possa se tornar a maçã podre do Regime.

Pedro José e Emília Joaquina jamás esqueceríam do vexame. Embora seu filho e sua Majestade riram muito depois disto.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Algumas conchas e moluscos da ilha






























Estas são algumas espécies que podemos achar na ilha, mas há muitas mais.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Os indígenas da Ilha Grande




Muito pouco se sabe sobre os indígenas que morarom na Ilha Grande. Na minha opinião o único que até agora poderíamos afirmar categóricamente é que sim, eram nómades. O que não quer dizer que não houve nenhum assentamento importante na ilha, senão que este duravam no máximo seis ou sete anos. Nas nossas expedições foi difícil identificar ações antrópicas de origem indígena, mas não esta demais fazer a seguinte aclaração: as marcas nas rochas á beira mar, que a vox populi e algúns sites insistem em atribuir aos indios sao muito anteriores, e esta mais do que comprovado que forom feitas pelos homens-sambaqui o que implica uma antigüidade de 2000 á 4000 anos. Não seria descabelado pensar que na Ilha Grande, assim como em outros setores da costa brasileira este homen sambaqui tenha sido extingüido ou pelo menos explulso pelas tribos indígenas que-segundo as novas teorías- se espalharam do centro (Amazonia) ao litoral (peruano e brasileiro). Dadas as caraterísticas guerreiras, territoriais e antropofágicas dos Tupís, é possivel que hajan devorado a sus antecessores. Esta teoría tal vez também possa afirmarse no fato da superioridade dos índios em relação aos homens-sambaquis(botocudos?), que estavão ainda na idade da pedra. Nas sarabatanas, flechas e lanças leves o indios levavam vantagen sobre seus inimigos, porque podiam matar á distância.
Lí que na ilha as tribos indígenas eram culturalmente do periodo pré-cerámico. A pesar de nao haver achado nenhuma vasilha ou utensilho que prove o contrário , no topo do pico de Araçatiba encontramos marcas de um assentamento ao lado de um poço de argila branca ou tabatinga, que sabe-se muito usado pelos indios do litoral. Ao redor do cume desta montanha há marcas de mais de cinquenta ocas. Sao cavados circulares de dois á quatro metros de diámetro no barranco, onde supoe-se havía ocas feitas de taquara(que abunda pelos arredores) e sapé ou folhas de coqueiro. De este ponto foi tirada a foto panorâmica da baía. A distância da praia e a posição estratégica deste assentamento (pode-se ver o mar dos dois lados da ilha) me leva a refletir no seguinte: a tribo que aqui morava tinha problemas. Tal vez tinham conflitos com o grande jefe Cunhambebe, em cujo caso nao seríam Tupinambás e sim Tupiniquins que vieram da região de Paraty e Ubatuba nas suas canoas. Se fossem Goianazes nao teríam conflitos com os tupinambás, pois ambos pertencíam á Confederação dos Tamoios. Tal vez se trate de um periodo anterior á chegada dos portugueses, em cujo caso poderíam sim ser goianazes na época na que guerreavam com os tupis. Se for un asentamento posterior á chegada dos lusitanos pode que contrariamente ao que dizem que os indios daquí se entroçaram pacíficamente com os europeus, haja havido uma resistência. De qualquer forma muito ainda há para pesquisar, explorar e analisar sobre este assunto de quais indios habitavam aqui. è importante dizer que marcas circulares de ocas achamos por quasse todas partes onde fomos. Umas mais perto do mar do que outras, grupos de dez ou vinte. Mas sem dúvida esta do morro de Araçatiba é a mais importante achada até agora. As cavas se organizam em forma de coroa ao redor do cume. Há uma espécie de patio central, plano, bem no pico. Um calçadão de uns 30mt por 6mt de largura e dois de fondura, cavado de propósito. É uma usina de tabatinga onde acumula-se a água da chuva e na época de seca se cavar acha água(filtrada). Nao há água nas redondezas. Por que uma tribo iria morar num lugar tao seco com tanta água na ilha?. Outro motivo para pensar que estes não eram os índios que comercializavam com os europeus. Compartilhando atrvés do tempo a magnífica vista panorámica, imagino as indias cozinhando neste pátio, outras mascando e cuspindo a mandioca, ou todas berrando para seus homens que caçavam na floresta que havía um invassor se aproximando.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Os varais da ilha


27-01-2008

Apenas asoma el sol, aunque tímidamente, las sogas de las casas se llenan de ropas. Ha llovido más de una semana. Desde que llegaron a esta isla, a las mujeres no les resta más que trabajar al compás de los avatares del tiempo para mantener sus hogares decentes. Esta penosa tarea de sísifo, la de estar lavando siempre los mismos trapos, siempre los mismos mosaicos y los mismos platos...eternamente, no era sólo un imperativo del clima, sino también –creo- una forma eficaz de huir de toda la sensualidad con que el paisaje allí afuera amenazaba. Tienen ese miedo ancestral a la floresta, los relatos de apariciones, la memoria de los presos fugitivos agazapados en las sombras,la prohibición evangélica de bañarse en el mar de biquini, la vergüenza de su cuerpo, el marido bebiendo en el bar...

A pesar de venir de una realidad distinta, de estar acostumbrada a vagar sola de madrugada por las calles de la ciudad sin más recelo que el de que mi padre descubriera que había salido aún sin su permiso... despues de diez años de vivir en este Paraíso me ví retrocediendo ante miedos que jamás había tenido.

A Lenda do Caldeirão

Hoje quero lhes apresentar esta senhora de quase nove décadas. Mora na Praia Grande e vêm duma familia que já esta na ilha faz mais de dois séculos. É uma mulher trabalhadeira...ainda capina e planta sua roça na ladeira empinada. Um exemplo de saúde, mesmo que atualmente reclame de dores depois de trabalhar o dia inteiro com o sol de fevereiro na cabeça.
Àvida da memória dos seus anos, tal vez porque no meu exílio precisse de lembranças para viver...embora nao sejan lembranças próprias e sim da humanidade em geral, com esa sede digo, fui em muitas ocasiões visitar dona Matilde e fazía-lhe um caudal de perguntas. Logo ví que não era muito confiada e a história que segue nao a ouví primeiramente da sua boca senao dum neto seu. Com o tempo nos tornamos amigas. Ela gostou do meu jeito e conheceu e gostou também dos meus parentes que me visitaram na ilha. Eu gosto dela e respeitéi seu silêncio...até que ela mesma abriú jogo (ou fogo?)
Para cima do terreno de Dona Matilde há muitas pedras e pouca água. Há vestigios de que já correu muita, mas a maioría das nacentes secou e só em épocas de chuva abundante ressucitam. Era o mês de julho e por sorte en esta estação faz frío mas quase não chove. Assim a mata fica aberta durante o outono e isso favorece as expedições, pois reduz o trabalho do facão. Um dia desses subimos bastante o pico mais alto que está nas costas da Praia Grande de Araçatiba. Dona Matilde disse que havía um enorme caldeirão de bronze e que estava alí desde a epoca da escravidão. Um tessouro, disse, mas muito pesado ao ponto de precissar de vários homens para arranca-lo de duas paredes de pedra onde estava encravado e entre as quais fazía-se uma grande fogueira e que por isso havía um poço... e por que a senhora nao mostrou o caldeirao para ninguém? perguntei já tentando indagar a veracidade do assunto. Matilde respondeu que porque nao dava mais para ela ir e se indicasse o local para alguém com certeza se mandaría com o dinheiro sem lhe dar um tustão da sua parte. Ela riú muito quando perguntei se também não confiava em mim. Lhe disse que não estavamos atrás de riquezas e sim de objetos antigos para colecionar...as gargalhadas me abraçou e me beijou dizendo "Mas, minha filha, se são as coisas velhas as que valem dinheiro e isso você sabe muito bem!! ". Mordidos pelo monstruo da cobiça partimos nesse mesmo meiodia a nossa primeira incursão na procura do caldeirão de bronze.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Dona Maura, "a macumbeira"




Me contava dona María, antiga moradora da Praia da Cachoeira, que uns quarenta anos atrás a conheceu. Dona Maura morava no alto da trilha que vai para Praia da Longa. Lá tinha uma casa de pau á pique onde costumavão-se fazer consultas, reuniões e até ouvía-se frequentemente a percusão da tabaca. Disse que as pessoas íam buscar seus serviços de adivinha, mas que por sua experiencia própria mais cabía-lhe a fama de errar nos prognósticos. Uma vez María foi vê-la e lhe perguntou onde estavam os patos que havíam sumido do seu sítio no dia anterior. A Maura respondeu-lhe que estavam na casa do vizinho mais próximo. Logo avisaram a María que os patos tinham fugido e estavão nadando no mar, lá embaixo na praia. Esse e outros dessacertos me relatava dona María enquanto ría sem parar. Disse que muitas pessoas íam lhe preguntar onde havía ouro escondido e que ela nao sabe por que a Maura havía “sismado” que tinha ouro enterrado ou entaõ se os espiritus falavão-lhe mesmo, mas que isso provocou uma febre passageira em algunas pessoas que cavaram poços enormes por toda a região, inclusive podía se ver no seu próprio sítio (da María) as marcas ainda da esperanza frustrada. Antes de saber a história nós achávamos que estes poços eram marcas das raízes de grandes árvores caídas…nao deixa de ser.